segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O macaco e a onça

Valdesson Pedro[1]
Luzinete Julio[2]
Celinho Belizario [3]

O presente trabalho é parte integrante do currículo da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, sob a coordenação da professora da disciplina de Questões Indígena. Vale ressaltar nesse trabalho, a produção elaborada por este aluno. Não bastou somente pegar uma caneta e redigir o presente texto. Ele, que é membro de uma família tradicional e ortodoxa dos costumes e lendas indígena, guardião do valor da cultura e toda tradição secular do conhecimento Terena, a chamada educação indígena[4]. Segundo relato do autor desse texto, foi contado pelo seu avô (In Memória), numa roda de conversa em uma das belas noites na sua casa, comenta ele, com tanto entusiasmo e saudade dos tempos que vivenciou ao lado do maior conhecedor da tradição e valor de uma vida, finaliza o aluno. Ele entrevistou, além disso, sua avó Joana, como o qual onde ele vive atualmente.

Escola Estadual Indigena Cacique Timóteo/Aldeia Cachoeirinha/Miranda-MS
Foto/celinho/24.09.12

            A escola neste aspecto, enquanto instituição, sistema de ensino , tem esse objetivo de escrever e fazer a divulgação dos conhecimento herdado de geração em geração! Antigamente eram repassadas numa conversa de família! A realidade atual requer nova forma de organização sem deixar que as culturas, tradições e toda forma de um povo se identificar com tal. Para isso, a esse deve trabalhar de acordo com a realidade do aluno, compreendendo e valorizando a sua cultura e costumes, abrangendo o conhecimento global, para que ele possa estar preparado para entrar em uma universidade ou ocupar espaço de instancia publicas que presta serviço para a comunidade indígena. Considerando ainda, que a escola é um importante lugar para trabalhar toda a cultura, língua e crença, valorizando os professores indígenas pelo pertencimento e conhecimento em duas vias. O conhecimento empírico e epistemológico[5]. Ambos esse conhecimento deve estar atrelado para possibilitar  a produção de conhecimento indígena de maneira escrita e divulgada.
Esse talvez o maior desafio de uma escola indígena, buscar sistematizar os conhecimentos tradicionais e garantir que nos currículos escolares a sua inserção enquanto parte integrante de um povo que a sua historia e todo modo de viver peculiar. Enfatizando a importância dos professores indígenas, como autores de sua própria historia! 
           
                          Aluno Valdesson Pedro/ autor/foto:celinho/24.09.12

                        FESTA NA FLORESTA
          Certo dia de manhã, meu avô me contou uma historia, uma lenda que falava de uma festa na floresta entre os animais, meu avô me contou exatamente desse jeito:
            Um macaco caminhava tranquilamente pelo campo, quando de repente, ele avistou um veado fêmea . O macaco aproximando-se do veado disse-lhe:
            - Olá,  meu nome e macaco, eu tava te observando de longe admirando a sua beleza e fiquei encantado com a tua beleza, será que você não queria se casar comigo?
            - Veado respondeu,  obrigada pelo elogio, sinto muito mas eu já sou comprometida, estou de casamento marcado.
            - Macaco indagou,  quem será o sortudo?
            - Veado respondeu, eu vou me casar com a onça pintada.
            - Macaco, Ah! Então você vai estar se casando com uma onça que pra mim serve de cavalo. Eu vou provar pra você que ele serve de cavalo pra mim, que ele não passa de um bichinho de estimação pra mim, farei isso antes de vocês se casarem.
            O macaco foi-se embora pra casa furiosa da vida, pois o seu amor não havia sido correspondido, o macaco foi embora pensando num plano para fazer a sua amada acreditar que a onça fosse mesmo a sua onça de estimação.
            No dia do casamento logo de manha, os convidados começaram a chegar, o sapo foi o primeiro e depois chegou o jacaré, mas quando chegaram lá perceberam  que a tartaruga já havia chegado, pois já tinha saído de casa a uma semana pra chegar antes de todo mundo. Mas logo se notou a ausência do musico que no caso era o macaco, aí já viu ne!!!!!focou aquele tenso, suspense no ar!!
           
            A noiva que já estava preocupada e o noivo que é a onça, decidiu ir até a casa do macaco para busca-lo, já que era o musico. Quando ele chegou na casa do macaco a onça exclamou dizendo:

            - Macaco, macaco você esta aí?
O macaco com uma voz bem baixinho respondeu;
            - Aiiii, aiiiiiiii, eu estou aqui pode entrar.
            A onça entrou e disse ao macaco:
            - O que aconteceu? Ta todo mundo te esperando na minha festa de casamento, se arruma logo que temos que ir depressa, ta faltando só você pra animar a festa !
            - Macaco,  aiiii, sinto muito mas eu não to em condições de andar, exclamou! Continuou falando e disse para a onça só se você me carregar nas costas aí eu vou.
            A onça rapidamente concordou com idéia do macaco e foram para a festa, depois de caminhar alguns metros, o macaco se joga ao chão e a onça pergunta:
            - Macaco, o que aconteceu?
            - Onça,   eu preciso de um selo de cavalo pra mim ficar mais confortável.
            - Onça respondeu,  tudo bem eu arrumo pra você.
            A onça pôs o selo nas costas e foram indo para a festa, já quase chegando à festa, o macaco se joga novamente ao chão reclamando que estava desconfortável e inseguro, a onça mais uma vez pergunta:
            - O que houve desta vez?
            - Macaco disse,  eu preciso de um pedaço de galho para ma apoiar ao chão e uma espora para garantir a minha segurança.
            A onça mais uma vez atendeu ao pedido do macaco e arrumou tudo que ele pediu.
            Chegando à festa, logo que entrou pelo portão, o danado do macaco ergueu o pé onde tava a espora e acertou com toda sua força na barriga do cotado da onça que o coitado saiu pulando de dor jogando o macaco ao chão, mas ele caiu de pé e a onça saiu correndo floresta afora, gritando  de tanta dor, nunca mais ele foi visto pela floresta.
            O macaco todo feliz se achando mais que todo mundo aproximou-se da noiva e disse:
            -  Eu te avisei que o seu noivo não passava de um bichinho de estimação, e agora você aceita se casar comigo?
            E a noiva respondeu com toda sua ira:
            - Você acabou com o meu casamento, eu nunca vou me casar com alguém que gosta de destruir a felicidade dos outros!
            Mais uma vez o macaco e rejeitado, mas dessa vez com razão!
            FIM!
 MORAL: não busque a sua felicidade passando por cima da felicidade das outras pessoas.


[1] - Autor do texto. Aluno da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo/Aldeia Cachoeirinha – Miranda/MS
[2] - Professora da disciplina de Questões Indígena/ Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo/Aldeia Cachoeirinha – Miranda/MS. Academica do quarto semestre do Cusro de Licenciatura Intercultural Indígena Povos do Pantanal/UFMS/Campus de Aquidauana. Bolsista do Programa Institucional de Iniciação à Docencia - PIBID/UFMS.
[3] - Coordenador Pedagógico da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo/Aldeia Cachoeirinha – Miranda/MS

[4] - Ela acontece em qualquer lugar, momento. Pode ser numa pescaria, roçada, roda de terere. Esse tipo de educação não precisa necessariamente um professor, todos os membros de uma comunidade indígena são responsáveis.
[5] - Empírico: Conhecimento popular. Epistemológico: Conhecimento científico.

Um comentário:

  1. Muito bonita a história do macaco e da onça!
    O BLOG está cada dia melhor!
    abs
    rafael

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